sábado, 22 de dezembro de 2007

O Advogado Mirim (Especial de Natal)

“Querido Papai Noel”
“Querido Papai Noel” – repetiu a mãe enquanto anotava numa folha de caderno, a cartinha que seu filho deixaria para o Papai Noel.
“Eu me comportei bem esse ano e por isso gostaria de te pedir um presente.” – ditou o pequeno observando a mãe escrever freneticamente sua cartinha. – “Gostaria muito mesmo de ganhar esse presente.”
“De ganhar esse presente” – repetiu a mãe, baixinho, enquanto terminava a frase. – “Agora diga qual é o presente.”
“O que eu quero é um castelo HipermaxTurbo da Estrela... Ah sim, antes tem que dizer o preço” – lembrou o menino.
“Não precisa dizer o preço do brinquedo, Douglas Alberto” – explicou a mãe, com paciência.
“Precisa sim. Antes de dizer o presente, eu digo logo o preço para o Papai Noel não errar na hora de comprar...” – informou o menino com ares de sabido.
“Papai Noel não compra os presentes. Ele os fabrica. Ele e seus pequenos duendes ajudantes possuem uma fábrica onde eles fabricam todos os brinquedos pedidos.” – contou a mãe.
“Mas o meu brinquedo é da “Estrela”. Um castelo da Estrela e um castelo da fábrica do Papai Noel são diferentes!” – falou revoltado.
“Não são não” – respondeu a mãe confusa com a destreza do pequeno Douglas Alberto – “Papai Noel faz os brinquedos exatamente iguais aos originais. Pode confiar.”
“Mas isso não é crime? Eu li que copiar qualquer coisa dos outros é crime.” – retrucou o menino.
“É... É crime” – concordou a mãe, confusa. Não deixaria mais o pequeno Douglas Alberto ficar lendo seus livros de Direito, afinal, dava nisso. Uma criança de dez anos sabendo a Constituição na cabeça!
“Então Papai Noel é criminoso?” – perguntou.
“Não” – disse rapidamente – “De maneira alguma! A... A... A justiça permitiu ao Papai Noel produzir brinquedos idênticos... Apenas nessa época do ano.” – terminou, aliviada.
“Então ele produz todos os brinquedos para todas as crianças do mundo em menos de cinco dias?” – perguntou assustado.
“Sim... Não... Quer dizer, produz sim.” – decidiu-se a mãe, ainda mais confusa.
“Como ele faz isso?” – perguntou o moleque.
“Ora, já disse que ele recebe a ajuda dos duendes. Papai Noel e os duendes trabalham dia e noite na véspera do Natal para fazer os presentes.” – informou, satisfeita.
“Peraí” – interpelou o menino, pensativo – “Segundo a legislação, não é permitida uma carga horária de trabalho tão longa assim. Trabalhar dia e noite é crime!”
“Onde você viu isso, Douglas Alberto?” – perguntou a mãe horrorizada.
“Na CLT. Lá diz que o trabalhador pode trabalhar, no máximo, 40 horas semanais ou 8 horas ao dia. Se os duendes trabalham 24 horas durante 5 dias, dá um total de 120 horas. Logo, constitui crime.” – terminou o menino.
“Mas Douglas Alberto, isso é a lei trabalhista” – disse a mãe – “Não se aplica aos duendes.”
“As leis se aplicam a todos” – disse o menino com seriedade.
“Sim, mas os duendes trabalham por prazer. Para eles, é muito prazeroso passar dia e noite fazendo brinquedos para as crianças.”
“Sei. Mas eles não ganham dinheiro para isso?”
“Não, é claro que não!” – disse a mãe horrorizada com a mente capitalista de seu pimpolho – “Eles fazem isso por prazer e para trazer a felicidade, não há dinheiro envolvido.”
“Então Papai Noel se utiliza do trabalho escravo dos duendes?” – perguntou o moleque.
“Não! Douglas Alberto, não diga isso!”
“Ora, se eles não recebem salário e não possuem carteira assinada, eles são escravos do Papai Noel e, com isso, comemorar o Natal é financiar o crime!”
“Não é não! E você sabe por quê?” – desafiou a mãe.
“Não” – disse o menino com ar inocente.
“Porque... Porque... Porque eles trabalham dia e noite sem receber nada, mas é lá no Pólo Norte. E, no Pólo Norte, nada disso é crime.” – terminou a mãe, aliviada.
“Ah” – disse o menino decepcionado – “Eu não conheço as leis do Pólo Norte...”
“Mas a mamãe conhece e está te dizendo que não é crime por lá.”
“Mas mesmo assim é impossível produzir tantos brinquedos em menos de uma semana. São milhões de crianças no mundo todo. E ainda tem aquelas que fazem a cartinha em cima da hora!” – desafiou.
“É... Bem, nisso a mamãe se enganou. Nem todas as crianças devem ganhar os presentes. Papai Noel deve selecionar as que vão ganhar...”
“Então quer dizer que eu posso não ganhar meu castelo HiperMaxTur...”
“Não!” – interrompeu a mãe – “Você vai ganhar!”
“Como você sabe?”
“Ora, porque você se comportou bem durante o ano. E Papai Noel presenteia os que se comportam bem...”
“Mas como ele vai saber que eu me comportei bem... Apesar de dizer na cartinha, eu posso estar mentindo!”
“Oh não, mas ele vê tudo lá de cima!” – explicou a mãe apontando para o céu.
“Mas, afinal, Papai Noel mora no Pólo Norte ou no céu?”
“Ele... Ele... Ele mora no céu e trabalha no Pólo Norte quando chega o Natal.”
“Mas se não tem dinheiro envolvido, como ele conseguiu comprar duas propriedades?”
“Ele... Ele não comprou... No céu, as casas não são compradas, mas sim cedidas. Quanto mais bonzinho você é, melhor a sua casa no céu. Mamãe já te falou sobre isso.”
“Falou sim. Então Papai Noel só dá presentes para as crianças para ser o mais bonzinho e ter a melhor casa no céu?” – perguntou desconfiado.
“Não! Ele não é um interesseiro, Douglas Alberto. Ele faz por prazer mesmo!”
“Sei” – murmurou desconfiado – “E a fábrica no Pólo Norte. Como ele comprou?”
“Ele não comprou”
“Mas no Pólo Norte as terras são compradas!” – falou, sabido.
“Sim, são compradas” – concordou a mãe, percebendo a sinuca em que se metera.
“Se ele não comprou, ele invadiu. Papai Noel é um invasor de terras?” – perguntou.
“Não. O governo do Pólo Norte cede o terreno para ele na época do Natal.” – disse a mãe.
“Mas e a energia? Para produzir tantos brinquedos é preciso energia! Se ele não tem dinheiro, como ele paga a energia elétrica, luz e tudo mais. Papai Noel faz gato*?”
“Não, ele não faz gato. A energia também é cedida.”
“Assim é mole” – disse o moleque decepcionado – “Só espero que o meu presente venha”
“Virá sim.” – disse a mãe – “Papai Noel sabe que você foi um bom menino.”
“Você disse que ele vê tudo lá de cima...”
“Sim, ele vê.”
“Mas isso é invasão de privacidade.”
“Não!”
“É sim. E mesmo que o governo deixe, eu não deixo!”
“Somos todos obrigados a deixar” – inventou a mãe – “Estava no contrato quando a mamãe comprou a casa.”
“Deveria ter algum comentário sobre isso na Constituição. E não tem.”
“É verdade”
“Mesmo assim, não quero Papai Noel me vendo tomar banho. Isso pode ser pedofilia!”
“Olha a boca! Não fale assim do Papai Noel, Douglas Alberto! Se ele te vir falando assim, é capaz de não trazer o presente!”
“Que nada, mãe! A essa hora, Papai Noel está na fábrica do Pólo Norte e não no observatório do céu...” – informou.
“Mesmo assim, se continuar assim eu não escrevo a carta! E você só sabe ler, não sabe escrever!”
“Tá bom. Eu paro” – disse o menino, sibilando um choro.
“Não chore, Douglas Alberto. Perdoa a mamãe... Ela ficou brava com você à toa... Vamos terminar a cartinha logo porque mamãe tem que sair” – incentivou.
“Tudo bem.” – disse secando o rostinho pueril – “O que eu quero é um castelo HipermaxTurbo da Estrela.”
“Já escrevi isso”
“Perceba, Papai Noel, que o que eu quero é o castelo da Estrela. Da Estrela, hein!” – grifou o menino preocupado.
“Não precisa dizer isso”
“Coloca, mãe. Coloca. Afinal, pirataria é crime tanto de quem produz quanto de quem recebe. Não quero ser um criminoso recebendo um presente falsificado.”
A mãe, cansada da discussão, escreveu.
“Acabou?”
“Não. Coloca mais duas observações, por favor.”
“Pode dizer” – falou, saturada.
“Observação um: Favor deixar o presente na porta dos fundos e não em cima da minha cama, como no último ano. Afinal, posso acusá-lo de invasão domiciliar.”
“Douglas Alberto!”
“Anota, mãe! Anota! É importante!”
“Tudo bem.”
“Observação dois: Papai Noel, se possível presenteie o Wesley com um game boy. Wesley é o filho da empregada, Nani, aqui de casa. É o quinto ano que ele pede um game boy e o senhor ainda não trouxe. Por um acaso a máquina de game boy’s quebrou?”
A mãe anotou tudo.
“Pronto. É isso” – disse satisfeito – “Pode colocar na janela”
“Certo. Agora o senhor vai dormir que já é tarde! Mamãe vai sair com o papai, mas a Nani vai estar aí. Deixa que eu ponho a carta na janela.”
A mãe dobrou a carta e guardou no bolso. Douglas Alberto observou os pais saírem, atrasados, de casa. O menino foi para o quarto e agachou-se ao lado do telefone. Tomando coragem, pegou o aparelho e discou três dígitos.
“Polícia” – disse uma voz do outro lado.
“Boa noite, gostaria de fazer uma denúncia.” – disse o pequeno Douglas Alberto, disfarçando a voz.
“Diga.”
“Armei uma emboscada aqui em casa para um criminoso altamente perigoso. O homem pratica pirataria, plágio, trabalho escravo, faz gato, invade terras e casas, além da privacidade alheia!”
“Estou anotando.”
“Ah sim, também pratica violência contra animais em extinção” – disse lembrando-se das pobres renas.
“Deus do céu!”
“Ah sim, e é um racista. É um racista descarado há, pelo menos, cinco anos.” – falou, lembrando do pobre Wesley que pedia o game boy há cinco anos e não ganhara só porque era negro.
“Muito obrigado, senhor. Por favor, diga seu nome e endereço. Tudo será mantido no mais absoluto sigilo.”
“Chamo-me Douglas Alberto. O endereço é Rua das Ferraduras, casa nove.”
“Ok. Estarei enviando uma viatura até aí.”
“Não é necessário. A emboscada não é hoje.”
“E quando é, senhor?”
“À meia-noite do dia 24 de dezembro. Ele virá pela porta dos fundos.”
“Obrigado, senhor. Tenha uma boa noite.”
Douglas Alberto desligou o telefone e foi se deitar, satisfeito. Fizera seu dever de cidadão.

FIM

sábado, 15 de dezembro de 2007

A festinha

Vem que vem que vem quicando...

O saboroso batidão invadiu o salão de festas. A pouco eficiente animadora gritou ao microfone:“Venham! Venham dançar!”. Expremendo-se na pequena multidão, Arabela tentou se aproximar da caixa de som. Sorridente, sentiu a ritmada batida do funk penetrar seus ouvidos, atiçando suas pernas a se mexer...

Até o chão... Bem gostosinho, bem gostosinho...

Sentindo que Mr.Catra cantava especialmente para ela, implorando que descesse até o chão, Arabela o fez. Dona de seus prazeres, levantou o vestidinho quadriculado e rebolou, empinando seu bumbum ainda tomando forma. “Quem dançar melhor, ganha brinde!” – incentivou a animadora. O brinde pouco importava. Importava sim, o calor do momento, a voz Pavarottiana de Mr.Catra, sua qualidade musical e, ah sim, a letra... A letra das canções... Brindando-a com o nome de sereia, potranca, égua e tudo mais que adoraria ser...

Agora o chumbo é quente...

Arabela fechou os olhos, ignorando o restante à sua volta. Tomada pelo clímax sexual, requebrava o máximo que seu corpinho agüentava. Esquecendo-se, momentaneamente, do aniversariante e de todos os familiares, Arabela dançou. Não só dançou, mas, pelos gestos e remelexos, comeu, deu, chupou, desceu, quicou, tremeu, gozou...Achava difícil que algo pudesse ser melhor do que aquilo...

Créu, Créu, Créu...

À distância, seu Agenor, o pai, olhava, orgulhoso, a filhota de seis anos dançando entre a meninada. Como tinha talento a menina... Entregava-se à música!
É uma pena que não tenha aceitado quando, dez anos depois, sua doce Arabela resolveu sair de casa e mostrar seu talento no Lounge’s Bar em shows noturnos para os gringos de Copacabana.

FIM

Em cada domingo, um conto...

Eis aqui um espaço para eu despejar todas as minhas (in)sanidades.
Só pra avisar aos navegantes, é bem provável que os contos sejam de drama e/ou comédia.
Espero que gostem e que faça sucesso, afinal foi assim que a exímia autora Bruna Surfistinha começou... Fodendo e escrevendo!

Por favor, critiquem!